Ao chegar à vila de Santa Bárbara, no município de Augusto de Lima, no norte de Minas, há uma cancela bem no meio da rua que a separa do mundo exterior quase como os portões de um reino mágico. Logo ali a frente um enorme gramado com algumas árvores e bancos fronteiam casinhas rústicas. As bicicletas, principal meio de transporte dos moradores, ficam paradas do lado de fora dos portões. O ritmo acelerado de quem veio pela estrada se ameniza, contagiado pela tranquilidade que paira no ar. E quem sabe a prosa começa com um dos comunicativos habitantes do local?
Cachoeira do Telésforo deságua num rio largo cercado por praia de areia branca e fina
Do outro lado da rua, a pequenina igreja do vilarejo e, mais a frente, as ruínas da antiga fábrica de tecidos do final do século 19. Restaurada, sua estrutura ainda preserva os tijolos visíveis e vãos de janelas disformes a mostrar a vegetação que a cerca, dando uma aparência toda peculiar à construção.
No interior, o antigo maquinário foi transformado em mobiliário e os estofados coloridos, bem como as luminárias, dão o arremate a um cenário “cinematográfico”.
Nesse grande espaço acontecem shows, festas, feiras, oportunidades perfeitas para se integrar com os nativos. Mas não se preocupe em esforçar-se tanto pra isso, o entrosamento vem fácil. Guarde os esforços para chegar à belíssima cachoeira de Santa Bárbara com seu desnível de 180 metros – um tobogã natural que garante a diversão - e curtir intensamente o dia.
A vila, que se desenvolveu a partir da fábrica de tecidos - que utilizava, já no final do século 19, energia hidrelétrica – tem as origens ligadas às suas águas termais que faziam com que os tropeiros, vindos da Bahia e norte de Minas em direção a Diamantina na busca de pedras preciosas, encontrassem ali um pouso perfeito. Hoje o turismo movimenta a economia do local, que tem extensa programação cultural, como eventos gastronômicos, de música, esportes e artes.
Como todo interior mineiro, a vila tem a festa de sua padroeira, que acontece em dezembro com alvorada, procissão, leilão, cavalgada, folia de reis e comida típica. Um bom momento para conhecer Santa Bárbara.
Os interessados em aprender mais sobre sustentabilidade podem visitar a ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) acompanhados de um guia que lhes explicará sobre todo o processo de tratamento do efluente residencial e industrial da vila. Com sorte, podem se deparar com os novos habitantes locais, uma família de jacarés. Para se aprofundar na história, é possível visitar a Companhia de Santa Bárbara, segunda indústria têxtil de Minas Gerais e uma das mais antigas do mundo em funcionamento.
Na vila, há várias opções de caminhada: à Prainha da Usina, uma pequena barragem no Riacho D’areia; por trilhas ecológicas no leito do rio; à usina hidrelétrica com toda a explicação do processo de geração de energia que abastece o hotel e a fábrica; às barragens ou à parte alta da cachoeira para contemplação do por do sol e banho nas piscinas naturais. O visitante pode também, percorrendo uma trilha mais longa e rústica, visitar a APA (Área de Preservação Ambiental), Parque Nacional da Sempre Viva.
No entorno da vila, outras cachoeiras chamam a atenção, como a Cachoeira do Telésforo, situada a cerca de 27 km da vila que deságua num rio largo cercado por uma enorme praia de areia branca e fina e a Cachoeira da Fenda que se situa num cânion com imensos paredões e uma inusitada pedra suspensa que fica presa entre eles formando um portal que o turista atravessa nadando para chegar à queda d´água. Ainda nas redondezas, grutas com pinturas rupestres, cachaçarias tradicionais e outros vilarejos como Teixeiras e Arraial de Curimatai.
Se a preguiça convida ao “dolce far niente”, siga para o Resort Águas de Santa Bárbara - que tem a opção “day-use” com almoço incluído - e aproveite a deliciosa piscina ou suas cristalinas águas termais. Já na Pousada Sombra do Espinhaço, o restaurante aberto ao público serve comida típica em mesinhas de madeira sob as árvores. Nos porões da antiga fábrica, a boate Don Ratão anima as noites de sábado.
Por Bruno Albergaria